História verídica, retirada do delicioso livro Uma Senhora Toma Chá. Na década de 1920, um grupo de cientistas estava tomando chá quando uma senhora afirma ser capaz de dizer se, em uma xícara, o chá havia sido colocado antes do leite ou vice versa. (Na Inglaterra, é comum tomar chá com leite.) Os colegas acham impossível, por não conseguirem ver que diferença química isto poderia fazer. Após certa discussão, um deles propõe que, ao invés de tentar explicar por que a senhora poderia ou não ser capaz de adivinhar a ordem, eles deveriam primeiro testar se a senhora era mesmo capaz de fazer o que dizia. Para isso, eles preparam, em segredo, oito xícaras de chá, colocando em cada uma o leite ou o chá antes. A senhora deveria experimentar as oito xícaras e adivinhar a ordem da cada uma delas. Ao final, a senhora acertou as oito xícaras. Como a chance de oito acertos por acaso era muito pequena, eles foram obrigados a concordar que a senhora era sim capaz de dizer se o leite foi colocado primeiro, ainda que eles não tivessem nenhuma explicação para essa habilidade.

O procedimento por trás do teste do chá é hoje usado nas mais diversas áreas. Hipóteses são feitas, experimentos são conduzidos, e a evidência coletada é usada para validar ou não a hipótese. Em agricultura, podemos tentar determinar se plantar café durante a lua cheia faz diferença na produtividade. Em medicina, podemos tentar determinar se um remédio é de fato mais eficiente do que outro no tratamento de uma doença. Google e Facebook fazem hoje milhares de testes por dia para determinar que forma de mostrar resultados e propagandas geram melhor resposta dos usuários. Testes semelhantes são feitos em psicologia, economia, marketing, e muitas, muitas outras áreas.

E são experimentos assim que formam a base do ensino baseado em evidência, cujo objetivo é medir o impacto de diversos fatores sobre o aprendizado. Estes fatores podem ser uma determinada estratégia de ensino, infra-estrutura, situação familiar do aluno, etc. Veremos no próximo post que as conclusões dos experimentos são, frequentemente, surpreendentes e contra-intuitivas. Entretanto, antes de mergulharmos em algumas dessas conclusões, é importante entender um pouco mais sobre o ensino baseado em evidência, como os experimentos são feitos, e quais suas limitações e críticas.

Considere, em primeiro lugar, o teste do chá. É muito óbvio, nesse caso, o que queremos medir. Já no caso de educação, a questão não é tão óbvia, e o resultado é muito menos quantificável. O que significa dizer que uma intervenção é melhor que outra? Em geral essa comparação é baseada no desempenho dos alunos em testes, como ENEM, PISA, ou testes conduzidos pelos próprios pesquisadores. Mas essa é certamente uma visão limitada sobre o que é um bom ensino. Podemos argumentar, por exemplo, que um bom ensino inspira os alunos a aprender mais, o que não é medido em testes.

Além disso, os resultados de um experimento não explicam por que uma estratégia faz ou não muita diferença, nem como ela pode ser adaptada à realidade de cada docente. Ainda assim, ignorar a evidência é certamente um risco. Se pesquisadores não foram capazes de determinar um impacto relevante de uma estratégia, temos a obrigação de pensar seriamente se devemos adotá-la. Da mesma forma, se uma estratégia simples mostrou um grande impacto em experimentos, é quase uma irresponsabilidade ignorá-la.

E o que mostram os estudos? Quais são os fatores de maior impacto? Quais fatores populares não possuem um impacto tão grande assim?

Mais sobre o assunto nos links:

Segundo Evidências: Fatores de Alto e Baixo Impacto na Aprendizagem

4 Estratégias Metacognitivas Para Garantir Aprendizagem