No post “Reflexão Sobre Educação Baseada Em Evidência“, vimos o que é o ensino baseado em evidência, quais seus objetivos, vantagens e limitações. Neste post vamos ver o que a evidência diz a respeito de alguns fatores que impactam o aprendizado, focando em técnicas de alto impacto e baixo custo, bem como em alguns “mitos”, aspectos que, nos experimentos, não se mostraram tão impactantes quanto comumente se crê.
A primeira observação interessante aqui é que, felizmente, quase tudo tem um impacto positivo. E os fatores com impacto negativo são os que se esperam: violência familiar, depressão, pobreza, etc. De resto, tudo o que a escola, o professor, o aluno ou a família podem fazer de fato acaba ajudando. Com base nesta observação, a questão importante não é saber se algo funciona. Ao contrário, é importante saber o que ajuda *mais* no aprendizado, e o que traz mais benefício em função do custo de implementação.
Dois fatores aparecem sempre com grande destaque nos estudos de ensino baseado em evidência, seja por seu grande impacto, seja pela simplicidade de implementação:
feedback
metacognição.
Darei aqui uma muito breve descrição desses fatores. Mais detalhes podem ser encontrados em outros posts deste blog.
O FEEDBACK de grande impacto no aprendizado não envolve apenas dar uma nota para o aluno, ou escrever algum comentário em sua tarefa de casa. O feedback eficiente é personalizado e específico, identificando claramente o que está correto, o que precisa ser melhorado, e como o aluno pode melhorar. Ele deve ser oferecido frequentemente, e o aluno deve ter a oportunidade de atuar no feedback, melhorando o que deve ser melhorado. Finalmente, o feedback deve também guiar a ação do professor em sala de aula, que deve pautar as atividades e o ritmo da aula em função do estado de aprendizado dos alunos. Por exemplo, se os alunos ainda não entenderam algo direito, não adianta passar para o próximo ponto. Deve-se, ao contrário, continuar explicando esse ponto, possivelmente usando atividades e estratégias diferentes, e buscando resolver as dúvidas que foram levantadas através do feedback do aluno.
Uma das melhores formas de coletar feedback, e por si só um fator de grande impacto, é o uso de avaliações formativas. Estas são avaliações frequentes, normalmente curtas, e de pouco risco para o aluno (contam pouca ou nenhuma nota), cujo principal objetivo é promover o aprendizado. Elas são, assim, parte integrante do processo de aprendizagem, e uma das suas principais funções é identificar rapidamente as dificuldades dos alunos, para que elas possam ser rapidamente corrigidas.
O outro fator de grande impacto e relativo baixo custo é a habilidade METACOGNITIVA, ou a habilidade do aluno de entender seu próprio processo de aprendizagem. Esta habilidade permite ao aluno gerenciar melhor seus estudos, monitorar seu progresso, buscar alternativas, identificar dificuldades e estratégias para contorná-las, etc. Para estimular o desenvolvimento destas habilidades, o aluno deve ser frequentemente instigado a pensar sobre o assunto.
No outro extremo, temos aspectos que, quando submetidos a experimentos, NÃO apresentaram um impacto muito grande. Destacamos aqui dois fatores:
Tamanho de sala de aula: os estudos mostram que o número de alunos em sala de aula só faz diferença se ele for menor que 12. Mesmo neste caso, o impacto só é observado se pedagogias que se beneficiem do baixo número de alunos forem adotadas.
Estilos de aprendizagem: nesse caso, a evidência é bem forte de que um foco em estilos de aprendizagem, na melhor das hipóteses, não traz benefício algum. Mesmo o fato de que pessoas possuem um estilo de aprendizado preferencial não pode ser verificado em experimentos, e ensinar apenas focando em um estilo pode ter resultados negativos, ao empobrecer as experiências do aluno.
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Referências:
Chiu, C.W.T. (1998). Synthesizing Metacognitive Interventions: What Training Characteristics Can Improve Reading Performance? Paper presented at the Annual Meeting of the American Educational Research Association San Diego, CA, April 13-17, 1998
Coffield, F., Moseley, D., Hall, E., & Ecclestone, K. (2004). Learning styles and pedagogy in post-16 learning. A systematic and critical review. London: Learning and Skills Research Centre.
Dignath, C., Buettner, G. & Langfeldt, H. (2008). How can primary school students learn selfregulated learning strategies most effectively? A meta-analysis on self-regulation training programmes. Educational Research Review 3.2 pp. 101-129.
Hattie, John. Visible Learning for Teachers: Maximizing Impact on Learning. London: Routledge, 2012.
Hattie, J. and Timperley, H. (2007). The Power of Feedback. Review of Educational Research 77.1 pp 81–112
Kluger, A. N., & DeNisi, A. (1996). The effects of feedback interventions on performance: a historical review, a meta-analysis, and a preliminary feedback intervention theory. Psychological Bulletin, 119(2), 254.
Lysakowski, R.S., & Walberg, H.J. (1982). Instructional Effects of Cues, Participation, and Corrective Feedback: A Quantitative Synthesis. American Educational Research Journal, 19(4), 559-578.
McEwan, P. J. (2015). Improving Learning in Primary Schools of Developing Countries A MetaAnalysis of Randomized Experiments. Review of Educational Research, 85(3), 353-394.
Tenenbaum, G., & Goldring, E. (1989). A Meta-Analysis of the Effect of Enhanced Instruction: Cues, Participation, Reinforcement and Feedback, and Correctives on Motor Skill Learning. Journal of Research and Development in Education, 22(3), 53-64.
4 Comentários
Boa tarde! Gostei muito Do post, parabéns! Porém senti Falta das referências, uma vez que esta falando de evidências.
Abraço,
Adriana
Obrigada pelo feedback Adriana. Já adicionei as referências no post. Valeu 😉
Acho que há varios outros fatores que afetam o aprendizado dos alunos, como o estágio de desenvolvimento emocional-cognitivo, vulnerabilidade socio-emocional, relevancia do conteúdo no contexto do aluno e outros de cunho neurocientifico, mas a mim parece tb que o tamanho da sala de aula seja de relevancia elevada e não deve ter um tratamento alinhado a sua relevancia.
Obrigada pelo feedback Joseval. Com certeza há muitas coisas que impactam o aprendizado. Apenas foi citado dois fatores que o professor tem controle e pode investir suas energias para atrair mais resultados. Eu penso muito na situação das escolas públicas e como ajudar os professores maximizar o aprendizado mesmo com a escassez de estrutura das escolas. Em relação ao número de alunos em sala, vários estudos revelaram que a diferença no impacto na aprendizagem quando comparado salas com mais e menos alunos (entre 20 e 40 alunos) não foi tão significativa como esperado. Para realmente ter uma diferença mais significativa, alguns estudos sugerem ter menos de 15 alunos em sala. E sabemos infelizmente que isso acaba encarecendo o sistema educacional. Portanto, acredito que é mais eficiente os professores focarem suas energias em coisas que eles têm mais controle. Espero te ver mais por aqui 😉.
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